Sem fim


"Esta história não acontece no futuro, talvez no Brasil, em outro país, o cenário, os personagens e os confrontos são bem comuns, aliás, nem os imaginamos, todas as narrativas de antecipação conservam os arquétipos de heróis e as mesmas tramas, não inserem os covardes, os desvalidos, os desajustados e os fracassos. Andres não é um fracassado, sobrevive." Nilo Dias Cabral

Chama-se Andres, é catador e dorme onde é possível, no mato, debaixo de alguma marquise, próximo ou debaixo de uma parada de ônibus. Identifica os horários com uma capacidade incomum de observação. Levanta próximo ao mesmo horário em que passa o coletivo, o que importa se 5h25 ou 5h30, recolhe os pertences em quatros sacos, acomodados em um carrinho de mercado. Parte, enfim, para a primeira parte de do dia, passará pela rua H, e receberá de seu Ênio um pão com mortadela e um copo de café com leite. Adiante, o seu Osmar e a Dona Ivone sairão com o carro para irem ao trabalho, é longe, pelo que soube, um lugar impossível de imaginar a quem nunca saiu deste bairro, só por extrema necessidade.

Retoma o caminho, hoje tem coleta seletiva, quanto mais cedo, menor a disputa, nem sempre amigável. As agressões são comuns, uma verdadeira luta pela sobrevivência, o lixo é a propriedade de quem dele se apoderar, quer seja primeiro, quer pela violência, o órgão municipal de limpeza determina que é dele, antes de chegarem os veículos e os funcionários coletores, é de quem apropriar-se primeiro dos resíduos.

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