Porto descasado


Porto descasado 1 (Primeira postagem no facebook em 18 de maio de 2013)
Uma brecha mínima e insignificante segue o leito do Riacho Ipiranga, da nascente da Lomba do Sabão até o encontro com as águas do grande Lago Guaíba. Fenômeno raro, ninguém ouviu falar. Sem precedentes, nem em Porto Descasado, nem em outras paragens: como registrá-lo nos anais científicos? Os recentes monitoramentos mediram um crescimento irregular, variando de intensidade em certos períodos. Os ânimos acirraram-se; impossível, alegam os renomados especialistas, mas os registros são evidentes, embora, em consultas encaminhadas aos países "mais desenvolvidos", nada conste. Vieram geólogos dos "Estadus Unidus", e nada. Como assim? Um fenômeno local, virtual, talvez? O fato é que dois anos depois, a brecha virou escárnio no exterior. Para os habitantes de descasados, depende apenas dos costumes. Uma vez integrado ao bairrismo gaudério, o sujeito percebe de imediato o que somente aqui é possível, uma brecha sob o riacho que ironicamente leva o nome de um outro local histórico do pais nesta cidade.


Porto descasado 2 - o homem
Dizem que naquele dia o criador estava deprimido. A manhã nascera mais vermelha, pássaro algum ousara trinados, quietude estranha para Andres, despertado pelo susto do silêncio. Acostumara-se com os ruídos da cidade. Nesta manhã, surpreendera-se. Ouviu que uma gurizada havia aprontado no centro de Porto. Seu Adão, porém, saiu de casa na 24 de outubro e o linha vinte encostou no mesmo horário em frente ao banco. A percepção rendia-se ao ritmo da cidade.
Decidiu assim lavar-se na bica do bar do seu zé, um puxado de madeira que o proprietário da lancheria havia improvisado na boteca para o uso do pacato Andres.

Andres conhecia o mundo por frequências. O caminhar mais lento de Dona Ana permitia-llhe uma rápida mas obvia percepção, ela estava cada dia mais próxima do fim.
Mas o que sabia do fenômeno distante que atingia os próximos? Como a irritação de seu Roberto com o doutor Antônio, vizinhos de tempos e que, de repente, parecem em início de um conflito. Pelo jeito, os acontecimentos para lá do bairro da Azenha eram bem fortes, o suficiente para o estado de coisas de agora.
Mais anotações
Neste lugar encontrei hospitalidade sim, mas uma fronteira estranha entre os que aqui vivem, duelam ideias, trazem orgulhos muito similares, o que enaltecem como distinção traz em essência uma similaridade fantástica. Orgulham-se das sagas já escritas, porém boa parte transmitida oralmente e relida em símbolos por todos os lados, da publicidade ao futebol, daí à política e à culinária. O que vi é admirável em vários aspectos, como a apropriação de línguas e culturas que ora parecem discriminatórias, ora integradas, como no caso dos termos indígenas presentes em diversas áreas, como na culinária, em nomes de cidades e por aí afora, mas parece que o único momento em que se desenhava alguma possibilidade de ruptura, tratado em versos e prosas, tornou-se a sina mais característica deste povoamento, ajustar-se a um acordo sem considerar isto como uma rendição e sim uma escolha. Daí em diante, todos os embates tornaram-se reféns deste estado de coisas, sempre argumentado como negociação, porém digno de nota para os estudiosos, o que havia de sangrento era menos pela distinção ideológica do que por uma bravura primitiva. Vemos esta presença constante, um esforço incrível para manter o símbolo de bravura e masculinidade porém marcado por fraquezas ideológicas.

2 comentários:

  1. tá com gostinho de quero mais..... parabéns, sempre que der vou ler mas já vou pedindo uma versão maior, que se possa ler em uma sentada

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  2. Vou devagar, porque tive uns percalços de vida.

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